Lunna Pov
Sentia meus cabelos sendo acariciados de forma suave e aconchegante. Um carinho que ao mesmo tempo em que me acordava, me fazia querer continuar quietinha, apenas aproveitando. Um cheiro forte, bom e familiar preenchia minhas narinas e o calor que sentia à minha frente indicava que havia alguém comigo. Abri os olhos, ainda os sentindo pesados e avistei o rosto bem desenhado de Ian. Ele usava um terno escuro e me fitava com carinho. Senti meu coração se aquecer, mesmo tendo a sensação de que algo estava errado, de que havia me esquecido de algum detalhe muito importante.
- Bom dia meu anjo. - reparei em como seus olhos azuis ficavam ainda mais lindos com os raios de sol que entravam no ambiente. Percebi o cheiro de desinfetante e olhei em volta, vendo o que parecia ser o interior de um quarto, completamente limpo. Eu não sabia onde era esse lugar. Tentei responder, mas tudo o que saiu foi um ruído estranho, me fazendo perceber uma pressão em minha boca. Eu estava amordaçada. Como em um clique, senti todo o meu corpo tenso, sentindo minhas mãos e pés presos nas extremidades da cama. As lembranças da noite passada vieram como uma enxurrada, não me deixando pensar direito.
Olhei para Ian, em pânico. O que diabos estava acontecendo?
Na noite do baile
O garoto mexia em seu celular distraidamente. Passava foto por foto, apenas fitando o rosto de sua amada. Deveria ter ido ao baile, mas não queria vê-la se despedindo de Ian. Mesmo todo arrumado e tendo dito à Aleksandra que iria, ficou apenas sentado no meio-fio em frente a casa de Lunna. Ele sabia que era apenas uma despedida que ela daria ao mais velho. Sabia que o que ela sentia por ele era carinho. Deveria estar feliz, pois no outro dia, os dois já poderia estar juntos. Talvez até pudesse levá-la para o parque, passar o dia todo junto dela. Matar a saudade realmente. Porém, a gravata parecia apertada demais, o terno, quente demais, mesmo que soubesse que a temperatura dessa noite não passaria de 17°C. Tinha a inquietante sensação de que algo iria dar terrivelmente errado. Mas não sabia em relação a que. Se lembrava da expressão de Aleksandra ao pedir para que ele fosse ao baile, para que ficasse de olho em Lunna. Aquela garota era realmente estranha.
Suspirou, olhando para o céu. Já havia escurecido. Por que sentia uma tristeza tão grande? Por que seu coração estava tão apertado? Fitou o celular. Queria ouvir a voz de sua Lunna. Saber que ela estava bem. Mas não seria um bom momento. Ela estava com Ian.
- Zayn? - ouviu uma voz feminina o chamando e se virou para trás. Era a mãe de Lunna.
- Boa noite, Sra.Dobrev.
- Pode me chamar de Lindsay. - ela disse gentilmente, mas em momento algum sorriu. Sua expressão demonstrava que não estava bem. - Será que posso me sentar ao seu lado garoto?
- Claro.
- Está todo arrumado... Por que não está no baile?
- Eu... Não sei. Não estou com muita vontade. E a senho... você? Por que está aqui fora?
- Não estou me sentindo bem. Precisava de ar. Hoje está um dia estranho. Estou com a sensação de que algo vai dar errado, mas não sei o que. Acha que aquele garoto é confiável para tomar conta de minha Lunna?
- Por uma noite, espero que sim. Mas amanhã ela vai ser completamente minha. E eu vou cuidar dela da melhor forma que puder. - ela deu um sorriso leve.
- Realmente ama minha filha, Malik?
- Muito. - afirmou.
- O bastante para querer algo mais sério?
- Com algo mais sério a senhora quer dizer... Casamento?
- Exatamente. - O moreno mordeu o lábio inferior. - Ou nem agora, mas... Você iria para a mesma faculdade que ela apenas para ficar perto dela?
- Sim, eu iria. E, Lindsay, eu pensei sim nisso. Em casamento. Faz muito tempo. Fui criado para isso. Há coisas que entreguei para ela e para mais ninguém, porque é ela que eu quero. Mesmo aquele tempo com a Perrie. Eu estava confuso, magoado. Pra mim, sempre foi a Lunna. Só não sei se ela pensou.
- Nunca falaram sobre isso?
- Não. Parecia muito cedo. Ela não é aquela garota romântica que pensa nisso desde criança.
- Tem razão.
- Então eu não queria... Assustá-la. Até porque isso não é tão comum com a nossa idade.
- Foi apenas sua criação...
- Exatamente.
- Você é muçulmano, não é?
- Sou.
- Entendo. Isso nunca foi um empecilho para vocês?
- Nunca falei com ela sobre essas coisas de... Religião. Na verdade, nem sei o que ela é. - franziu o cenho.-É cristã? Espírita? Ateia? Agnóstica? Poderia ser até hindu. Nunca me falou.
- Para te falar a verdade, eu também não sei. Passei tanto tempo longe... E agora estou tentando compensar um pouco. Porém, mal parei para conversar direito com ela. Mesmo que não perceba, ela é um pouco distante. Talvez porque viveu todo esse tempo com o pai e assim ficou "independente", o que é normal quando se é criada por um homem.
- Realmente. Uma vez minha mãe viajou para a casa da vovó e levou minhas irmãs junto. Eu tinha que estudar e fiquei com meu pai. Eu fazia praticamente só o que queria. Ele me dava dinheiro e eu que comprasse o que queria comer. Foi realmente estranho. Ah, só um momento. - disse ao sentir seu celular vibrar. Uma mensagem de um número desconhecido.
Zayn, sou eu, Ethan. Você sabe onde está a Lunna?
Se perguntou como diabos ele havia conseguido seu número, mas logo respondeu, com desgosto.
Ela foi para o baile com o Ian.
Mas nenhum dos dois está aqui. Tem certeza que chegaram?
Eu não sei. Só um momento.
- Tudo bem? - Lindsay perguntou ao ver a expressão preocupada de Zayn.
- Ethan está perguntando onde está a Lunna. - disse. Poderia não ser nada, mas se sentia obrigado a falar, já que era a filha dela. - Ele não a viu no baile. - procurou o número de Louis e ligou. Cinco toques até que ele atendesse, gritando por causa da música alta.
- Alô, cara, cadê você?
- Eu não fui. Lou, você viu a Lunna?
- Vi sim, cara. Ela estava com o Ian. Mas vocês não tinham voltado?
- Ela resolveu ter essa "última noite" com ele. Mas ela estava bem, certo?
- Acho que sim. Estava dançando e depois não vi mais os dois.
- Certo... - disse para si mesmo que ela estava bem, mas por algum motivo não conseguia acreditar nisso.-Valeu cara. Boa festa. - e desligou.
- Está tudo bem?
- Acho que sim, Lindsay. - suspirou.
- Pois não parece. Não quer me contar o que foi?
- Só não estou me sentindo bem. Acho que vou para essa festa. Pra não ter me arrumado à toa. - se levantou, sentindo o corpo inquieto. Poderia dar qualquer desculpa, mas o que realmente queria, era ver com seus próprios olhos se ela estava bem, pois realmente sentia como se não estivesse.
- Se você achar a Lunna, pode trazê-la para casa também? - e só então percebeu o estado da mulher à sua frente: Inquieta, preocupada, dos olhos suplicantes. Estaria ela tendo a mesma sensação que ele?
- Sim. Fique tranquila. - foi para a garagem de seu pai, pegando as chaves que seu pai havia lhe emprestado e entrando no carro. Deveria ser apenas algo de sua cabeça, mas não custava checar. Saber que ela estava bem era agora a maior prioridade. De acordo com Lunna, Ian era uma boa pessoa, então iria deixá-la segura. Mas Zayn não o conhecia e, assim, não confiava. Poderia ser um psicopata disfarçado. Balançou a cabeça, rindo um pouco. Agora estava viajando.
Teve que estacionar realmente longe do salão, afinal, estava super atrasado, mas não ligou e foi em passos rápidos, entrando de repente no amontoado de pessoas. A maior parte delas estava dançando no centro do enorme salão. Em volta da pista de dança haviam mesas redondas onde oito pessoas poderiam se sentar e acima também havia um mezanino com mais mesas. A iluminação era meio rosa, meio vermelha claro, deixando estranho e um tanto romântico, mesmo que a música que agora passava fizesse as pessoas enlouquecerem de tanto dançar. Avistou Louis e Eleanor sentados em uma mesa com Niall, Aleksandra, Lazar, Liam, Elle, Ethan e Perrie. Ao ver a última, se lembrou da conversa que haviam tido. Ele lhe dissera que queria ser apenas seu amigo e ela concordou de forma muito tranquila. Mesmo que não tivesse se expressado, sabia que a garota não gostava dele da mesma forma. Seus olhos estavam em outra pessoa. E agora isso estava ainda mais confirmado ao ver sua mão dada com a de seu futuro cunhado.
- E aí? - disse, tocando no ombro de Louis.
- E aí, cara? Sente-se conosco. - Liam convidou.
- Vocês já adicionaram mais uma cadeira. Está apertado. E nem está todo mundo aqui.
- Fala da Lea e do Harry? - Elle perguntou retoricamente. - Esses dois não vão vir se sentar. Arranjaram um canto para se agarrar. - revirou os olhos.
- Okay, mas eu vim mesmo para ver se acho a Lunna.
- Ah, eu vi ela. Ethan já foi te mandando mensagem, mas eu sabia. - Perrie disse.
- Aliás, desculpe. Eu não te respondi, cara. - Zayn se desculpou com o loiro.
- Tudo bem.
- Mas onde ela foi, Pezz?
- Vi ela saindo pela porta dos fundos.
- Para a área das piscinas?
- Sim. E o Ian foi atrás.
- Okay. Obrigada.
- Onde está indo?
- Vou atrás dela.
- Não, cara, eles podem estar se resolvendo.
- Louis, eu sinceramente duvido que dê para demorar tudo isso. Faz mais de meia-hora que eu os vi saindo. Foi bem no começo do baile. Vá lá, Zayn. - incentivou.
- Okay. - e ele foi. Não os avistou na área iluminada pelas luzes, de forma que foi procurar na área mais escura. Mesmo não conseguindo enxergar dois metros à frente, procurar em todos os cantos que pensou, mas nenhum sinal de vida. Voltou para dentro do salão e subiu para o mezanino. Porém, também não os achou. Mesmo na pista de dança não estavam. Era como se tivesse virado fumaça. Voltou para a mesa dos colegas, frustrado. Sentindo de forma mais intensa o aperto no peito. Onde ela estava?
- Não a achou?
- Não, Niall. Nenhum sinal de nenhum dos dois. - passou as mãos pela cabeça, sem se importar com o cabelo.
-Será que foram embora?
- Mas como, Perrie? Por que ela iria a algum lugar com esse idiota? Era só para ter um pouco de diversão aqui e terminar. Então iria para casa com algum de vocês, não sei. Ela não iria...
- Hey, cara, calma. Não precisa falar de forma tão rude. - Ethan o repreendeu.
- Como você pode dizer para eu me acalmar, sendo que a Lunna desapareceu? Não entendem que eu preciso vê-la? Que preciso ter certeza de que ela está bem? A sua irmã desapareceu. E não consegue fazer mais nada do que ficar flertando com...
- Zayn, venha comigo. Eu vou te ajudar a achá-la. - Aleksandra interviu, arrastando-o para longe, antes que falasse qualquer besteira.
- Obrigado. - suspirou.
- Tudo bem. Vamos ver se estão no estacionamento, okay?
- Okay. - os dois foram em silêncio percorrer o estacionamento. O carro de Ian era uma máquina extremamente chamativa. E não havia um único carro que ao menos lembrasse o dele. E Zayn sentia seu coração tão apertado que mal conseguia respirar direito. O que era aquilo?
- Você está bem? - Aleksandra perguntou, preocupada quando o viu se sentar na entrada do salão.
- Não. Eu não estou bem.
- Está apertado não está? - e esse foi um dos momentos em que ele pensou que essa menina só poderia ser louca, pela forma como o olhava.
- Do que está falando? - se fez de bobo.
- Seu coração. Está apertado não é?
- Como você...
- Nós temos que achá-la logo, Zayn. Se não o fizermos, algo muito ruim vai acontecer.
- E como diabos você pode saber disso? O que fez?
- Eu? Eu não fiz nada.
- Então como...
- Pare de perder tempo. - disse direta. - Precisamos achá-la.
- Como? - disse mais alto.- Como vamos achá-la?
- Eu não sei, Zayn. Mas minha tia também está sentindo um aperto, então ou algo vai acontecer, ou já aconteceu.
Atualmente
Ela segurava o choro na garganta enquanto observava o maior cozinhar, cantando como se fosse o dia mais feliz de sua vida. Mas não era. Mal conseguia acreditar que estava a uma semana sozinha com ele. Agora, ele confiava o bastante para que ela não ficasse amarrada na cama, mas mesmo assim, suas mãos e pés continuavam atados. Ela tinha que se esforçar e ser uma "boa garota". Talvez ele a soltasse e em algum momento ela arrumaria uma oportunidade para fugir.
- Você vai comer direitinho. Fiz com tanto carinho, não pode fazer essa desfeita comigo, meu anjo. - ele levou a colher até a boca da garota, forçando-a engolir. Esta tentava não vomitar. Poderia ser um manjar, mas somente por ter sido feito por ele, se tornava pior que esgoto. Havia gostado tanto dele, mas agora tudo o que restava era raiva, nojo, medo. Ian era louco. Ela precisava ir embora. Logo. - Isso, minha garota. Só minha. - se lembrava com horror como ele fora se revelando. Parecendo cada vez mais lunático.Ela tivera a inteligência de ficar quietinha depois da primeira vez em que ele fora lhe alimentar. Tinha cuspido tudo no rosto de Ian. E passara a noite no porão, infelizmente, acompanhada. Sentia seu corpo tendo dificuldades em tratar os cortes daquele dia. Eles ainda ardiam como se houvessem passado álcool neles. E realmente haviam.
Ian a pegou no colo e a levou para o quarto. Era como um quarto de princesa, um sonho. O que lhe parecia a piada de mais mau gosto do mundo agora.
- Você vai ficar quietinha? Se for ficar, eu não vou te amordaçar. - disse gentilmente.
- V-Vou ficar quietinha. - prometeu. E realmente iria. Apenas queria aquela coisa fedida longe de sua boca. E o pior era que toda ela estava assim. Suja. Não deixara que ele lhe desse banho e não fora autorizada a tomar sozinha. Ele ainda não confiava. Precisava fazer com que Ian pensasse que ela gostava de estar com ele, para que a deixasse livre.
- Ótimo, meu anjo. Eu vou cuidar de você. - voltou a acariciar os cabelos castanhos da menor. - Você sabe que é só minha não é? Minha. Saiba disso e eu não vou ter que te machucar de novo, Lu. Eu não quero te machucar. Não quero porque eu amo você, mas as pessoas parecem não entender quando são só minhas. E há outros que querem roubá-las de mim, não me dando outra escolha à não ser me livrar delas, sabe? Você não quer que eu tenha que me livrar do Zayn, não é?- Lunna sentiu seu corpo inteiro se arrepiar. O medo tomando conta de seus sentidos. O que ele estava dizendo? - Está escurecendo. Você tem que dormir, porque amanhã eu tenho uma surpresa para você. Vai gostar tanto. - sorriu feliz e beijou a testa da garota, indo embora em seguida.
- Não vou gostar de nada que venha de você. - ela sussurrou, finalmente deixando as lágrimas correrem. - Eu preciso ir para casa.
*
A noite passou rápida demais. Lunna queria poder ficar em seus sonhos para sempre, mesmo que nem ao menos lembrasse desses direito, mas isso não aconteceu. Ela abriu os olhos e, como todos os dias, encontrou Ian a fitando. O único momento do dia em que ele realmente parecia com aquele cara que conhecera no colégio. Mas ele não era. Aquele cara nem ao menos existia de verdade. Era uma ilusão. Pena que ela tivesse descoberto somente agora e de uma forma tão horrível. Ian era um monstro.
- Bom dia. Hoje você vai ter que tomar banho. - por puro reflexo, ela se encolheu. - Está tudo bem. Eu vou te soltar e você vai sozinha, se me prometer ficar comportada. Vai valer à pena, eu prometo.
- Sozinha? - Lunna perguntou fraca.
- Sozinha. - ele se aproximou dela, retirando as cordas de seus braços e pernas. O alívio que a menor sentiu ao se ver livre foi tão grande que ela não conseguiu segurar um suspiro. Mesmo tendo apenas poucos passos de distância da cama até o banheiro, cada objeto que ela via, parecia uma arma em potencial, uma chance de escapar. Mas ela não aproveitou-se de nada. Ainda era cedo. Tinha que ter mais paciência. Somente com paciência ela poderia conseguir voltar para casa. Ver seu pai, sua mãe, seu irmão, seus amigos. E ver Zayn. Como ele estava? Sentia sua falta? Eles a estavam procurando ou pensavam que havia fugido com Ian? Seriam capazes de pensar isso dela? - Vou deixar a porta encostada, mas não vou espiar. - ela assentiu, entrando no banheiro. Reparou em uma toalha felpuda pendurada e em cima do vaso uma roupa bem dobrada. Quando Ian encostou a porta, ela tirou a roupa e foi até o box. Havia um sabonete, uma bucha, shampoo e condicionador. Tudo pronto para ela. Resolveu aproveitar apenas aquele momento. A água quente caindo por seu corpo depois de tanto tempo. Demorou o que parecia uma eternidade, pois estava imunda e a água fazia com que suas feridas ardessem. A toalha era a mais felpuda que já havia tocado e a roupa que ele havia separado para ela era uma calça jeans e uma regata preta, que ela cobriu com uma blusa de frio cinza, para não mostrar os cortes feitos em seus braços. E então ela viu.
Uma tesoura enorme e afiada. Perfeita. Parecia chamar seu nome.
- Está tudo bem aí? - deu um pulo ao ouvir a voz de Ian do outro lado da porta.
- Já estou terminando.
- Ande logo.
- Okay. - ouviu atentamente até que seus passos se afastaram e, sem perder tempo, pegou a tesoura e colocou na cintura, escondendo-a com a blusa e o casaco. Quando saiu do banheiro, sentiu seu coração acelerado. Se ela tivesse alguma chance, iria fugir. E orava para que tivesse.
- Está linda. - ele elogiou.
- O-Obrigada. - disse, pegando a mão do mais velho, mesmo que contra a sua vontade. Teria que aguentar. Só mais um pouco, prometeu a si mesma. Se surpreendeu quando ele pegou uma cesta e a levou até a porta. - Nós vamos sair?
- Vamos. E você vai se comportar direitinho, não vai, meu anjo? Se não, eu vou ter que te machucar de novo. E nenhum de nós quer isso, quer? - Lunna negou, engolindo em seco.
Eles foram à pé até uma praça que não era mais do que alguns metros longe da casa. Haviam crianças brincando mais à frente do local, mas ele levou-a até uma parte mais isolada, no meio das árvores, de onde conseguiam ver todos, mas ninguém iria vê-los. Ela não sabia onde estavam, mas, se fosse Londres, era uma parte que ela nunca havia frequentado ou chegado próxima. E será que ainda era Londres? Isso complicava um pouco sua vida, mas ainda assim não iria desistir.
Ian arrumou o pano no chão e colocou a cesta em cima, mandando-a se sentar.
- Não pense que essa é a sua surpresa, eu ainda não fiz nada.
- Então o que é? - se fez de curiosa.
- Tenha paciência e eu logo vou mostrar. Sabe, esse é um lugar ótimo. Tranquilo, a população não passa de cinco mil habitantes. - e isso respondeu a pergunta... Eles não estavam em Londres. Onde, então? Vasculhou sua mente, procurando cidades próximas de Londres com poucos habitantes, mas não sabia de uma com tão poucos. - Eu poderia viver o resto da minha vida aqui, com você. Não seria um sonho? Desde que você entenda que é minha e de mais ninguém, poderíamos ser muito felizes, eu sei disso. - e mais uma vez, ele começava a viajar, a deixando assustada. Não. Isso não seria um sonho, mas sim um pesadelo. Ela não queria passar a vida toda com Ian. Ter filhos, netos. Ela queria, sim, ter tudo isso, mas... Com Zayn. Sim, com ele. Será que ele estava mal? Será que estava com raiva, chateado? Sentia tanta falta dele... Precisava voltar para casa. E percebeu que essa poderia ser uma oportunidade. Estavam escondidos. Ela poderia enfiar a tesoura nele e sair correndo para achar um policial, um telefone, qualquer coisa.
Ian a abraçou, forçando-a a deitar. Agora sentia nojo daquele cheiro. De qualquer coisa que ele havia tocado. Incluindo das roupas que estavam em seu corpo. Porém, esperou, fingiu relaxar, apesar de que não muito. Não podia fingir estar bem o tempo todo, pois Ian não era burro e ela sabia disso.
Estava sozinha com ele, em um lugar aberto onde poderia fugir e não estava presa. Se não fugisse agora, que outra oportunidade poderia ter? Sentia a tesoura queimar em sua cintura, como que pedindo para ser usada. Tremendo, levou a mão lentamente até ela, sentindo o metal frio em seus dedos. Meu Deus, iria mesmo fazer isso? Retirou o objeto de lá e sem pensar muito enfiou na cintura do maior com toda força que possuía, fazendo-o dar um grito e largá-la. Lunna se levantou, sentindo as pernas bambas.
- Desgraçada, você me paga. - Ian disse com um olhar que a fez estremecer. Era o mesmo do porão, o mesmo que a fazia querer sair correndo, pois se ele conseguisse alcançá-la, não sabia do que seria capaz. - Eu não vou te machucar, Lunna, eu vou te matar.
E ela correu. Correu como nunca havia corrido em toda a sua vida. As pessoas a olhavam estranho, mas nem ao menos as notava, estava apavorada. Conseguiu parar apenas quando viu um orelhão. Tentou discar o número da polícia, pedir ajuda, mas estava estragado.
- Droga, pense Lunna, pense. - sua mente corria a mil por hora. Estava feliz, mas apavorada e isso não a deixava raciocinar com clareza. Estava demorando demais. Será que o ferimento o deteria por muito tempo? - Um celular! - Olhou em volta, mas do seu lado da rua estava completamente vazio. Observou com mais atenção e notou um garoto passando. - Hey, você! -gritou. Antes que pensasse melhor, estava atravessando a rua. E foi então que sentiu seu corpo ser atingido.
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