Era uma manhã nublada quando Zayn pisou no chão completamente
branco, como em todo inverno, para ele, a melhor época do ano, a mais bela, até
mais que a primavera. Um tempo em que ficava em casa, tomava chocolate quente e
assistia filmes com suas irmãs mais novas, como que apenas para agradá-las, ver
seus rostinhos felizes que sempre aqueceram seu coração. Mas agora nem isso
conseguia fazê-lo contente.
A dificuldade era grande para se mover com aquela enorme
quantidade de roupas, mas mesmo assim ele se ajoelhou sobre o túmulo, sentindo
um pouco de o frio penetrar muito fracamente em sua calça. As poucas flores que
foram deixadas, muito provavelmente, no mês anterior já estavam secas e
cobertas pela neve. Zayn sabia que ninguém iria ao cemitério no inverno e,
exatamente por isso, escolhera essa época para ir visitar sua amada pela
primeira vez, sem chance de encontrar qualquer um daqueles que ultimamente mal
o olhavam. Era como se doesse em seus corações ao vê-lo, assim como doía em seu
peito quando estava na presença de seus vizinhos, pois tudo neles o lembravam dela.
E lá estava ele, novamente sem saber o que falar. Não acreditava
que seria ouvido, afinal, ela já se fora. Mas por que sentia como se realmente
fosse? O nó em sua garganta doía, mas ele não queria chorar. Não novamente,
pois sabia que isso a desagradaria. Sorriu ao pensar que não importava se
acreditava no fato dela o ouvir ou não, apenas precisava falar. Faz quatro
meses... Quando colocaria para fora?
- Hey, meu amor. - começou, com a voz para dentro por segurar o
choro. - Me desculpe por ter demorado tanto para te visitar, okay? Eu apenas
não conseguia vir. Isso dói, sabia? Pensar que não vou mais te ver. Às vezes
fico com raiva de mim, de você. Eu poderia ter ido para o baile ao mesmo tempo em
que você e ter ficado de olho. Você poderia não ter ido para aquele lugar
escuro. Mas nada disso importa, porque já foi e não dá para voltar no tempo,
apesar de esse ser meu maior desejo. Não sei se você sabe, mas o Ian se matou.
Ele estava preso e foi encontrado pendurado em uma corda dentro de sua cela.
Realmente não sei como conseguiu essa corda, pois não deveria entrar naquele
lugar, mas pouco me importa. O que vale é que ele vai queimar... Descobriram
que ele também matou o irmão gêmeo, mas somente por um bilhete que Ian deixou.
Se fosse depender de uma investigação policial. - deu um riso amargo, sentindo
um gosto salgado. Não havia jeito, estava chorando. - Ele era um belo de um
filho da puta. Teve o que merecia. Sei que iria querer me bater, então,
desculpe, mas estou quase bombando. Não se preocupe, pois já caí na real. De
qualquer forma, os meninos, Niall, Liam, Harry, Louis e eu resolvemos entrar
pro ramo da música. Parece que um dos tios do Liam tem muitos contatos e ele
vai nos ajudar. Não se vai dar certo, mas claro que vou tentar. Caso não dê,
faço meu curso de inglês e viro professor. Acho que nunca te falei sobre esse
meu plano... Aliás, não te falei de tantas coisas, pois pensava que tínhamos
todo o tempo do mundo. Irônico, não? A única garota que me faz querer passar a
vida inteira com ela e logo me é tirada... Mas isso me fez perceber que não
podemos deixar as coisas para depois, como eu sempre fiz, pois não sabemos o
dia de amanhã. Perdoe-me por não ter te dado tudo o que queria ter dado. E
também por não ter te achado a tempo. Eu nunca vou me perdoar por isso e também
nunca irei te esquecer, prometo. Mas enxerguei que é a hora de seguir em
frente, que é isso que você iria querer, que eu me erguesse. Tudo o que eu
conseguir, Lunna, tudo, vou dedicar a você, pois te amei mais do que qualquer
um, disso tenho certeza. E sempre vou amar. Você é o meu anjo.
Tocou o nome na lápide, mesmo sem conseguir senti-la e pensou consigo mesmo que voltaria. Limpou as lágrimas do rosto, rindo fraco ao ver que realmente havia chorado, diferente do que queria.
- Eu não queria mais chorar, meu amor, mas, me desculpe, ainda não consigo. Quem sabe um dia, hum? Até mais, minha querida. - e se levantou, indo em direção ao carro de sua mãe. Ela o abraçou e, com aquele gesto silencioso, acalmou um pouco aquele tempestuoso coração.
E o tempo passou...
E, como prometera, ele se esforçou. Em tudo, dava seu melhor. Acabou o ensino médio como um dos melhores alunos e, em seguida, focou-se em sua carreira e em seus amigos, que se tornaram irmãos. O melhor era que o entendiam. Em todo ano, naquele dia, mesmo que estivessem em turnê no Japão, os quatro o cobriam para que voltasse à Londres e pudesse visitar sua amada. Não gostava de levar flores, pois sabia que logo morreriam, mas apenas suas palavras. Zayn passou a acreditar que ela o ouvia e, quem sabe, realmente poderia. Acabou tendo casos com várias garotas durante toda a sua vida, mas não conseguiu se apaixonar novamente, havia fechado seu coração para qualquer uma. As garotas que mais amava além das de sua família, eram suas fãs. Elas poderiam não saber o motivo de sua tristeza naquele dia, mas sempre o apoiavam da mesma forma.
Depois de muitos anos, eles se aposentaram. Tinham uma vida de luxo e felicidade. Louis, casado com Eleanor, tinha dois filhos, Amber e Leo, sete anos mais novo. Harry, que havia terminado com Lea, se casara com Yuki, que fora interprete deles no Japão em uma de suas viagens ao país e agora tinham a pequena Rachel. Liam, com Elle, tinham Luke. Clare e Melissa, trigêmeos, além de Jake, dez anos mais novo que os três. Já Niall se casara com uma brasileira, Helena, a mulher mais doce que Zayn já conhecera e que se tornara sua melhor amiga, apesar de ele ter um ótimo relacionamento com todas elas. Os dois tinham os gêmeos James e Lewis, Gina, dois anos mais nova e a caçula, nove anos mais nova que os gêmeos, Lunna, que, por mais que tivesse o nome igual ao daquela que poderia ter chamado de tia, era completamente diferente desta, apesar de ter o mesmo bom coração. Eles foram como uma família para Zayn. O impediram de ficar sozinho e não o abandonaram nem mesmo quando, no ano de 2076, aos 83 anos, faleceu de câncer nos pulmões, antes mesmo que sua mãe, já com 107 anos.
08 de abril de 3025 - Incheon,Coreia do Sul
O garoto sentia seu coração acelerar pelo nervosismo. Seria sua quinta, sexta escola? Já perdera as contas, mesmo tendo apenas dez anos de idade. Mas, dessa vez, iriam se aquietar. Fora o prometido por seu père*. Haviam morado desde os Estados Unidos até a Austrália e mesmo na Rússia. Era francês, mas mal se lembrava do país e, muito menos, de sua cidade, Lyon, pois fora embora com apenas um ano de idade. Será que desta vez poderia ter amigos? Suspirou, apertando a mão de sua maman* e a fazendo parar, logo em frente da sala. A mulher o olhou e, percebendo os sentimentos do garoto, abaixou-se em sua frente, segurando os ombros deste.
- O que maman te disse? - quando o menor não respondeu, ela repetiu: - O que maman te disse?
- Que não preciso ter medo, que tudo vai dar certo e qualquer coisa é só ligar. - respondeu em voz baixa, observando-a atar o aparelho em seu pulso esquerdo.
- Número?
- Maman... - ele reclamou, vendo alguns colegas o fitarem de forma estranha e entrarem na sala que seria sua. Ele iria começar mal assim?
- Aaron, número. - disse firme.
- 999653-125847. - disse apressado.
- Apenas seja você mesmo e as pessoas vão ver o garoto encantador que é.
- Mas... Meu coreano é estranho, eles vão zombar de mim.
- Não vão. Acalme-se. Incheon é muito grande e só não estão mais acostumados com estrangeiros do que os habitantes de Seul.- sorriu levemente, afagando o cabelo do garoto. - Maman vem te buscar às quatro, okay? - beijou a testa do garoto.
- Okay.
Aaron observou-a ir embora com o coração apertado, mas respirou fundo e entrou na sala. Tinha que ser forte, agora era um homenzinho... Que se apavorou ao ser fitado por todas aquelas crianças de olhos puxados. Engoliu em seco e avançou, procurando sua cadeira. Agradecia por hangul ser tão fácil de aprender, de forma que não teve nenhuma dificuldade nisso. Infelizmente, era na segunda cadeira da fileira do meio. Odiava se sentar na frente, assim como ser o centro das atenções e naquele momento ambas as coisas estavam acontecendo. Será que poderia voltar para casa? Suspirou.
- Oi. - ergueu os olhos, se deparando com uma garota dos olhos cor de chocolate. Seus cabelos loiros eram cortados na altura do queixo e uma franja quase tampava seus olhos. Seu sorriso exibia dentes aparelhado e completamente brancos. Ela era... Completamente linda.
- O-Oi.
- Eu sou Eileen. E você?
- Aaron.
- Hum. É novo por aqui? Nunca reparei em você. - ela se aproximou com uma expressão curiosa, fazendo com que o garoto se afastasse.
- S-Sim.
- Você não é de falar muito, não é? E seu coreano é estranho... Como o meu. De onde você é?
- França. De onde você é? - se forçou a falar. Não conseguia se concentrar ao ver aquele sorriso tão brilhante. Era a garota mais linda que já vira. E isso o deixava nervoso.
- Berlim, Alemanha. É uma cidade maravilhosa. Moderna, enorme, com arranha-céus espelhados. Mas só posso ver nas férias, pois meu pai é muito ocupado, tanto que não vai comigo, apenas eu e mamãe.
- Eu já fui à Berlim.
- Mesmo?
- Sim.
- Não acho tão legal assim. - um garoto gorducho disse com certeza trazendo uma expressão chocada ao rosto da garota.
- Como não? É a cidade mais linda do mundo!
- Seul é muito mais.
- Nunca! Seul é cheio de contrastes horrorosos onde, de um lado, há pessoas extremamente ricas, do outro, extremamente pobres.
- Pois saiba que isso quase não existe mais, gringa burra. Só podia ser uma ridícula como você para falar uma idiotice dessas. Você é idiota assim como todos do seu país, assim como todos esses ocidentais!
Aaron arregalou os olhos ao ver Eileen sair correndo, claramente chateada. A raiva foi tanta que se levantou e empurrou o gorducho, indo atrás daquela que acabar de conhecer. Não importava. O principal que sua maman sempre ensinara era que as mulheres eram o bem mais precioso que existia na terra. Elas eram fortes, sim, mas ao mesmo tempo delicadas como flores e que ele jamais deveria maltratar uma mulher, mas sim protegê-la. E em hipótese alguma deveria fazer uma mulher chorar se não fosse de alegria.
Teve que correr para não perdê-la de vista, pois não conhecia o colégio. Como Eileen não se importava com os robôs seguindo cada um de seus movimentos, ele fez o mesmo, continuando atrás dela até que a mesma se encostou em uma árvore, se sentando. Aaron então percebeu que a garota estava chorando... E isso somente fez com que sua raiva aumentasse.
Tomou coragem por um momento e se aproximou, sentado-se ao lado da garota.
- O que você está fazendo aqui? - ela disse com a voz embargada. - Sabe, eu quis ser legal com você, mas não deve ficar perto de mim. Eles me odeiam e assim vão te odiar também.
- Eu não me importo, Eileen. - se lembrou que em sua mochila haviam lenços. Foram para a sua gripe da semana anterior, mas mesmo assim, os ofereceu para a garota.
- Obrigada, Aaron. Eu... Eu nunca tive quem me ajudasse.
- Como? Eles ficam do lado daquele gorducho idiota sempre? - a menina sorriu.
- Para quem estava falando tão pouco... Parece que a raiva te faz ficar mais solto. - o garoto corou. - E, sim, ninguém o enfrenta. ChinHae é um idiota, mas um idiota que arrebenta as pessoas... Outro motivo pelo qual você não deveria ter vindo me ajudar.
- Eu não me importo. - repetiu. - Se ele quiser, que venha.
- Não sei se você é um idiota ou um corajoso.
- Acho que está mais para um idiota corajoso. - sorriu, fazendo com que Eileen retribuísse.
E realmente, no dia seguinte, Aaron apanhou. Mas não foi importante. Ele ganhou uma amiga, uma melhor amiga que, anos depois, se tornaria algo a mais. Uma companheira, uma amante, a mãe de seus filhos, sua eterna namorada. Aquela para quem dedicou a maior parte de seu tempo, que nunca deixou de proteger. Seu anjo.
E, finalmente, depois de tantas vidas, algumas em que mal haviam se encontrado, aquelas duas almas puderam estar juntas até o fim.
- O que maman te disse? - quando o menor não respondeu, ela repetiu: - O que maman te disse?
- Que não preciso ter medo, que tudo vai dar certo e qualquer coisa é só ligar. - respondeu em voz baixa, observando-a atar o aparelho em seu pulso esquerdo.
- Número?
- Maman... - ele reclamou, vendo alguns colegas o fitarem de forma estranha e entrarem na sala que seria sua. Ele iria começar mal assim?
- Aaron, número. - disse firme.
- 999653-125847. - disse apressado.
- Apenas seja você mesmo e as pessoas vão ver o garoto encantador que é.
- Mas... Meu coreano é estranho, eles vão zombar de mim.
- Não vão. Acalme-se. Incheon é muito grande e só não estão mais acostumados com estrangeiros do que os habitantes de Seul.- sorriu levemente, afagando o cabelo do garoto. - Maman vem te buscar às quatro, okay? - beijou a testa do garoto.
- Okay.
Aaron observou-a ir embora com o coração apertado, mas respirou fundo e entrou na sala. Tinha que ser forte, agora era um homenzinho... Que se apavorou ao ser fitado por todas aquelas crianças de olhos puxados. Engoliu em seco e avançou, procurando sua cadeira. Agradecia por hangul ser tão fácil de aprender, de forma que não teve nenhuma dificuldade nisso. Infelizmente, era na segunda cadeira da fileira do meio. Odiava se sentar na frente, assim como ser o centro das atenções e naquele momento ambas as coisas estavam acontecendo. Será que poderia voltar para casa? Suspirou.
- Oi. - ergueu os olhos, se deparando com uma garota dos olhos cor de chocolate. Seus cabelos loiros eram cortados na altura do queixo e uma franja quase tampava seus olhos. Seu sorriso exibia dentes aparelhado e completamente brancos. Ela era... Completamente linda.
- O-Oi.
- Eu sou Eileen. E você?
- Aaron.
- Hum. É novo por aqui? Nunca reparei em você. - ela se aproximou com uma expressão curiosa, fazendo com que o garoto se afastasse.
- S-Sim.
- Você não é de falar muito, não é? E seu coreano é estranho... Como o meu. De onde você é?
- França. De onde você é? - se forçou a falar. Não conseguia se concentrar ao ver aquele sorriso tão brilhante. Era a garota mais linda que já vira. E isso o deixava nervoso.
- Berlim, Alemanha. É uma cidade maravilhosa. Moderna, enorme, com arranha-céus espelhados. Mas só posso ver nas férias, pois meu pai é muito ocupado, tanto que não vai comigo, apenas eu e mamãe.
- Eu já fui à Berlim.
- Mesmo?
- Sim.
- Não acho tão legal assim. - um garoto gorducho disse com certeza trazendo uma expressão chocada ao rosto da garota.
- Como não? É a cidade mais linda do mundo!
- Seul é muito mais.
- Nunca! Seul é cheio de contrastes horrorosos onde, de um lado, há pessoas extremamente ricas, do outro, extremamente pobres.
- Pois saiba que isso quase não existe mais, gringa burra. Só podia ser uma ridícula como você para falar uma idiotice dessas. Você é idiota assim como todos do seu país, assim como todos esses ocidentais!
Aaron arregalou os olhos ao ver Eileen sair correndo, claramente chateada. A raiva foi tanta que se levantou e empurrou o gorducho, indo atrás daquela que acabar de conhecer. Não importava. O principal que sua maman sempre ensinara era que as mulheres eram o bem mais precioso que existia na terra. Elas eram fortes, sim, mas ao mesmo tempo delicadas como flores e que ele jamais deveria maltratar uma mulher, mas sim protegê-la. E em hipótese alguma deveria fazer uma mulher chorar se não fosse de alegria.
Teve que correr para não perdê-la de vista, pois não conhecia o colégio. Como Eileen não se importava com os robôs seguindo cada um de seus movimentos, ele fez o mesmo, continuando atrás dela até que a mesma se encostou em uma árvore, se sentando. Aaron então percebeu que a garota estava chorando... E isso somente fez com que sua raiva aumentasse.
Tomou coragem por um momento e se aproximou, sentado-se ao lado da garota.
- O que você está fazendo aqui? - ela disse com a voz embargada. - Sabe, eu quis ser legal com você, mas não deve ficar perto de mim. Eles me odeiam e assim vão te odiar também.
- Eu não me importo, Eileen. - se lembrou que em sua mochila haviam lenços. Foram para a sua gripe da semana anterior, mas mesmo assim, os ofereceu para a garota.
- Obrigada, Aaron. Eu... Eu nunca tive quem me ajudasse.
- Como? Eles ficam do lado daquele gorducho idiota sempre? - a menina sorriu.
- Para quem estava falando tão pouco... Parece que a raiva te faz ficar mais solto. - o garoto corou. - E, sim, ninguém o enfrenta. ChinHae é um idiota, mas um idiota que arrebenta as pessoas... Outro motivo pelo qual você não deveria ter vindo me ajudar.
- Eu não me importo. - repetiu. - Se ele quiser, que venha.
- Não sei se você é um idiota ou um corajoso.
- Acho que está mais para um idiota corajoso. - sorriu, fazendo com que Eileen retribuísse.
E realmente, no dia seguinte, Aaron apanhou. Mas não foi importante. Ele ganhou uma amiga, uma melhor amiga que, anos depois, se tornaria algo a mais. Uma companheira, uma amante, a mãe de seus filhos, sua eterna namorada. Aquela para quem dedicou a maior parte de seu tempo, que nunca deixou de proteger. Seu anjo.
E, finalmente, depois de tantas vidas, algumas em que mal haviam se encontrado, aquelas duas almas puderam estar juntas até o fim.
*pére: pai em francês
*maman: mãe em francês
*maman: mãe em francês