Lunna Pov
Senti braços quentes e pequenos me envolverem com carinho. Eram os braços de minha tia. Estava com saudades dessa mulher que fora a mais presente que eu tive, afinal, minha mãe fora afastada de mim por meu pai biológico. Eles haviam se atrasado, realmente, mas haviam finalmente chegado. E eu não podia estar mais feliz. Abracei meu primo, Lazar, e minha prima mais nova, Aleksandra. Eles haviam mudado um pouco desde que os vira no verão. Mas apenas porque Lazar havia tingido o cabelo loiro, que agora estava ruivo e Aleksandra raspara a lateral da cabeça, como já havia dito que pretendia fazer. Estava linda. Ambos eram lindos. Na verdade, a família.
Pouco depois meu tio entrou com algumas malas. Eles iriam ficar em nossa casa por alguns dias, pois ainda não havia conversado realmente com Ian. Pensar nele me fez lembrar do dia anterior. Eu sabia que ele não estava bem. Precisava conversar outras coisas além da moradia de meus parentes. Urgentemente. Mas por enquanto me foquei neles totalmente. Ajudei Aleksandra a se instalar no meu quarto, colocando um colchão no chão para que ela dormisse, já que chegara tão exausta. Ethan dividiria o quarto com Lazar e meus tios ficariam no quarto de hóspedes. Logo, os quatro estavam dormindo. Eu sabia que estavam cansados. Não havia simplesmente vindo da Bulgária. Estavam no Japão nas últimas duas semanas e antes disso na África do Sul. Eu imaginava como eles estavam cansados.
Desci para a sala, encontrando meu irmão deitado no colo de minha mãe em cima do sofá assistindo um filme.
- Mãe, eu vou sair um pouco. Vou conversar com meu amigo sobre a casa dos tios. - avisei.
- Tudo bem, mas não volte tarde. - ela me disse com um olhar que deixou claro que ela sabia que não era apenas um amigo. Arregalei um pouco os olhos e saí, abrindo uma sombrinha para me proteger dos fracos chuviscos. Peguei um táxi. Era perto demais, no bairro vizinho, mas poderia começar a chover forte e isso não seria nada bom. Nada. Nada bom. Pude relembrar a ligação do dia seguinte. Eu nunca havia o visto daquela forma. Tinha que ter acontecido alguma coisa. E eu queria tanto saber. Não era apenas uma curiosidade comum. Estava preocupada com ele. De verdade.
Abri a porta da casa, que se encontrava destrancada como ele havia avisado. A casa tinha um ar luxuoso e moderno ao mesmo tempo. Me lembrava dela. Realmente me lembrava dela. Mas minhas lembranças eram um pouco nubladas por causa da bebida.
E então eu o vi. Sentado na bancada com um copo cheio de um líquido transparente que eu pude reconhecer. Seu olhar era um tanto cansado e... Triste. De uma forma que eu nunca havia visto nele. Isso me fez sentir vontade de abraçá-lo. Mas não iria. Ian estava obviamente camuflando o que sentia e eu não podia fazer isso com ele.
- Hey. - disse baixo, tocando em seu braço delicadamente. Ele sorriu para mim, um sorriso que não chegou ao seus olhos, e selou nossos lábios com carinho por mais tempo que o normal. Acariciei seu rosto por um momento e então me sentei ao seu lado. Não precisei falar. Ian sabia que eu queria saber, mas não ia perguntar. Apenas quando ele estivesse pronto. Fiquei segurando sua mão. Ela era quente, macia e enorme.
Sem dizer nada, ele me puxou até a escada em formato de espiral. Ela era fechada por paredes que estavam cobertas de fotos de família. Eu pude ver uma família feliz. Em alguns momentos parecia que ele tinha a mesma idade, mas estava um pouquinho diferente. Chegamos em frente de uma porta e hesitou. Não era medo por mim. Era como se o machucasse.
Finalmente, abriu a porta, dando visão para um quarto branco, cheio de pôsteres de bandas de rock, muitas que eu nunca tinha ouvido falar. No canto, havia uma imensa caixa de som ao lado de uma mesinha com um notebook. A cama tinha uma colcha estampada com um lobo cinza tão belo quanto assustador. E na mesinha de cabeceira haviam duas fotos.
- Esse é o seu quarto antigo?
Olhei com mais atenção para as fotos. Em uma, aparecia uma garota ruiva sorridente ao lado dele, com, aparentemente, quinze ou dezesseis anos. E na outra haviam dois garotos quase iguais. Ambos sorrindo de forma diferente. Um deles de forma alegre, animada e o outro transmitia, além dessas duas coisas, um tanto de ironia. O primeiro, eu percebi, era Ian. O segundo...
- Era o quarto do meu irmão gêmeo. - ele disse, sua voz soando baixa, presa, dolorosa. - Até que ele morreu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário